Exames utilizados na avaliação masculina

Na avaliação do fator masculino da infertilidade é essencial uma anamnese dirigida e o exame físico detalhado. Através deles podemos identificar fatores de risco modificáveis e não modificáveis para redução do potencial reprodutivo masculino. 

Além disso, são necessários exames laboratoriais e de imagem, entre eles podemos enumerar: 

ESPERMOGRAMA 

O espermograma, ou análise seminal, é um exame laboratorial essencial para avaliar a fertilidade masculina, fornecendo informações detalhadas sobre a saúde e a qualidade do sêmen. O “WHO Laboratory Manual for the Examination and Processing of Human Semen 2021” é uma referência fundamental para a realização deste tipo de exame, estabelecendo diretrizes padronizadas para garantir a consistência e a precisão dos resultados. Ele nos fornece a principal análise para avaliação do fator masculino 

Seus valores de referência são: 

  1. Volume do sêmen: ≥ 1,5 mL
  2. pH: ≥ 7,2
  3. Concentração de espermatozoides: ≥ 15 milhões/mL
  4. Número total de espermatozoides na amostra: ≥ 39 milhões por ejaculação
  5. Motilidade total (progressiva e não progressiva): ≥ 40% do total de espermatozoides
  6. Motilidade progressiva: ≥ 32% do total de espermatozoides
  7. Morfologia: ≥ 4% de formas normais baseando-se nos critérios estritos de Kruger
  8. Vitalidade (espermatozoides vivos): ≥ 58%

Estes são valores de referência gerais e podem variar com base em fatores individuais, clínicos e laboratoriais. É importante que a interpretação dos resultados seja feita por um profissional médico especializado.

Orientações para coleta: 

  • Preparação Pré-Coleta:
    • O paciente deve evitar a ejaculação por 3 dias (não recomendamos período mais prolongado).
    • Recomenda-se limitar o consumo de álcool, tabaco e outras substâncias que possam afetar a qualidade do sêmen.
  • Ambiente de Coleta:
    • A coleta deve ser realizada em um ambiente privado e confortável, para garantir a privacidade e minimizar a ansiedade, geralmente no próprio laboratório. 
  • Método de Coleta:
    • A coleta de sêmen é preferencialmente realizada por masturbação, utilizando um recipiente estéril fornecido pelo laboratório.
    • O paciente deve evitar o uso de lubrificantes que não sejam compatíveis com análise laboratorial, pois podem interferir nos resultados.

ANÁLISE HORMONAL 

Os exames hormonais são uma parte crucial da investigação de infertilidade masculina. Esses exames ajudam a identificar desequilíbrios hormonais que podem afetar a produção de esperma. Os principais hormônios avaliados incluem:

Hormônio Folículo-Estimulante (FSH): Produzido pela glândula hipófise, o FSH estimula a produção de espermatozoides nos testículos. Níveis elevados podem indicar problemas testiculares, enquanto níveis baixos podem sugerir disfunção hipofisária.

Hormônio Luteinizante (LH): Também produzido pela glândula pituitária, o LH estimula a produção de testosterona pelas células de Leydig nos testículos. Alterações nos níveis de LH podem afetar a produção de espermatozoides.

Testosterona: O principal hormônio sexual masculino, a testosterona é crítica para a espermatogênese. É importante lembrar que qualquer tipo de suplementação de testosterona pode comprometer a produção espermática.

Prolactina: Níveis elevados de prolactina podem interferir na função testicular e na produção de testosterona, sendo uma causa potencial de infertilidade.

Tiroxina e Hormônio Estimulante da Tireoide (TSH): A função da tireoide também é avaliada, pois disfunções nessa glândula podem impactar a fertilidade.

A interpretação dos resultados desses exames deve ser feita no contexto clínico completo do paciente, considerando fatores adicionais como histórico médico e resultados de outros testes, como análises de sêmen e exames genéticos. Muitas vezes, anomalias hormonais podem ser tratadas com terapias específicas, contribuindo para a melhora da função reprodutiva.

ANÁLISE GENÉTICA 

A investigação de infertilidade masculina pode envolver uma série de testes genéticos, uma vez que fatores genéticos podem desempenhar um papel significativo. Os  principais testes genéticos utilizados incluem:

  • Análise do Cariótipo: A avaliação do cariótipo é usada para detectar anormalidades cromossômicas numéricas e estruturais. Anomalias como a síndrome de Klinefelter (47, XXY) podem ser detectadas através deste teste.
  • Microdeleções do Cromossomo Y: Testes para microdeleções nos genes AZF (Azoospermia Factor) ao longo do cromossomo Y são importantes, uma vez que tais deleções são causas frequentes de azoospermia e oligozoospermia severa.
  • Mutação do Gene CFTR: A análise de mutações no gene CFTR é relevante, especialmente em casos de ausência congênita bilateral dos vasos deferentes (CBAVD), uma condição frequentemente associada à fibrose cística.

EXAMES DE IMAGEM 

A ultrassonografia é uma ferramenta valiosa na investigação da infertilidade masculina, pois permite a avaliação não invasiva do trato reprodutor masculino. Ela ajuda a identificar anormalidades que podem afetar a fertilidade, como varicoceles, obstruções nos ductos, ou malformações anatômicas.

  • Varicocele: Uma das causas mais comuns de infertilidade masculina, que pode ser identificada pela ultrassonografia com Doppler. Estudos mostram que o tratamento de varicoceles pode melhorar a qualidade do sêmen e os resultados de fertilidade.
  • Avaliação dos testículos e epidídimos: A ultrassonografia pode detectar problemas como cistos, calcificações, ou sinais de inflamação que podem impactar a produção de espermatozoides.
  • Obstruções dos ductos: Anormalidades nos ductos deferentes, como obstruções, podem ser identificadas, ajudando no planejamento de tratamentos como cirurgia ou técnicas de reprodução assistida.
  • Aspectos anatômicos: Anormalidades estruturais, como a ausência de algum dos órgãos do sistema reprodutor, podem ser facilmente visualizadas.

Mittal PK, published online: April 2017 – https://doi.org/10.1148/rg.2017160125

A ressonância magnética (RM) é outro exame de imagem que pode ser utilizado. A RM pode fornecer imagens detalhadas da pelve e do trato geniturinário, ajudando a identificar situações como alterações anatômicas e obstrução de via seminal.

  • Identificação de Anomalias Congênitas: Anomalias como a ausência dos ductos deferentes, que podem estar associadas a condições como a fibrose cística, podem ser detectadas.
  • Tumores e Lesões: A RM é útil na detecção de tumores testiculares ou outras lesões que podem comprometer a produção de espermatozoides.
  • Avaliação da Anatomia dos Testículos e Epidídimos e obstrução de vias seminais: A RM fornece imagens detalhadas que podem ser importantes para diferenciar entre condições que afetam a saúde testicular.

Mittal PK, published online: April 2017 – https://doi.org/10.1148/rg.2017160125

Referências:

Handelsman, D.J., & Cooper, E. (2013). “The role of androgens in male fertility, health, and physiology.” Endocrine Reviews, 34(6): 862–902.
Ferlin, A., et al. (2006). “Genetic abnormalities contributing to male infertility.” Endocrine Reviews, 27(2): 190–208.