A utilização de hormônios pode ser dividida em uso correto, uso inadequado e abuso. O uso correto envolve a utilização de testosterona e/ou seus derivados, em pacientes com déficit hormonal, retornando aos níveis fisiológicos, sob acompanhamento médico. O uso indevido envolve a utilização, mediante prescrição médica, sem que haja deficiência comprovada, geralmente para fins estéticos e/ou de tratamento de disfunções sexuais. Por fim, o abuso envolve o uso sem qualquer tipo de acompanhamento ou prescrição, envolvendo na maior parte das vezes mais de um esteroide, com a finalidade de ganho de massa muscular ou performance.
Estudos recentes têm demonstrado que o abuso de esteroides é um problema de saúde pública a nível mundial, que pode trazer diversas sequelas à saúde dos usuários, muitas delas ainda estão por vir. Entre eles podemos enumerar:
- Efeitos cardiovasculares: alterações do metabolismo do colesterol; hipertensão arterial, cardiomiopatia (alterações no músculo cardíaco) policitemia (aumento do volume das hemácias) gerando aumento da viscosidade sanguínea.
- Efeitos neuropsiquiátricos: depressão; mania (oposto da depressão), dependência dos hormônios; alterações cognitivas; maior chance de desenvolvimento de demência.
- Ginecomastia
- Alterações cutâneas como acne e estrias
- Alterações hepáticas
- Maior chance de desenvolvimento de tumores, como tumores de fígado
Ressaltamos um efeito colateral muito relevante, a infertilidade. O excesso de hormônios acaba gerando o bloqueio do eixo hipotálamo hipófise testicular, com consequente redução da secreção de gonadotrofinas (FSH e LH). Isso acarreta a redução ou parada da produção testicular de testosterona e espermatozoides. Geralmente, essa sequela é temporária e potencialmente reversível, mas quando o abuso é realizado por um período prolongado, as sequelas podem se tornar irreversíveis.
figura – bloqueio
A recuperação espermática após abuso pode ser realizada através de:
- Antiestrogênicos (clomifeno ou tamoxifeno): O clomifeno age como um modulador seletivo dos receptores de estrogênio (SERM). Nos homens, ele atua inibindo o feedback negativo do estrogênio sobre o hipotálamo e a glândula pituitária, resultando em um aumento na secreção dos hormônios luteinizante (LH) e folículo-estimulante (FSH). Isso pode levar a um aumento na produção de testosterona e, consequentemente, na espermatogênese.:
- Gonadotrofinas (HCG e FSH): As gonadotrofinas podem ajudar a reativar o eixo hipotalâmico-hipofisário, aumentando a secreção de LH e FSH, o que pode levar a uma recuperação da espermatogênese e níveis de testosterona.
Normalmente, os tratamentos com gonadotrofinas são realizados em um regime de injeções periódicas, que podem variar de acordo com a resposta clínica do paciente
É importante ressaltar que não existe dose segura para uso de esteroides, em outras palavras, é impossível dizer que determinada dose não irá trazer efeitos negativos, uma vez que depende da resposta de cada indivíduo. Da mesma forma, não há como afirmar que após a parada da utilização, haverá recuperação da função testicular.
Referências:
“Clomiphene citrate for the treatment of male hypogonadism: A systematic review.” Journal of Urology, 192(3), 682-688. DOI: 10.1016/j.juro.2014.03.036
Use, Misuse and Abuse of Testosterone and Other Androgens. Sex Med Rev. 2022 Oct;10(4):583-595. doi: 10.1016/j.sxmr.2021.10.002.
Ramasamy R., et al. (2014).